Um bom dia a toda gente
Eu cá quero duas carcaças
Como era antigamente
E se não queres entender
Ó filha vai p’ró caraças
Quero lá saber!
Deixa-me pois acabar
Toma
atenção à conversaPois se eu fiz uma promessa
Que assim tinha que falar
Irra que é complicada
Lá começa ela outra vez
Ó mulher está lá calada
Se não sei falar inglês
Sei falar à desgarrada
Bom dia senhor Sebastião
(Olha que amanhã eu não quero
pão)
A sua esposa está boa?
E como é que vai a vida?
Ah foi ter com a filha a
Lisboa
Ó menos anda distraída
Estás a ouvir Amélia Maria
Não me deste a demansia
Olha a Maria Emília…
Falta-me aqui dinheiro
Adeusinho Senhor Sebastião
Beijinhos à dona Conceição
E cumprimentos à família
Á mulher não te vejo desde
Janeiro
Pois quem havia de dizer
Tiveste tão atrapalhada...
Ai, andavas tão mal parecida
Assim já gosto de te ver
Pois se eu fiquei convencida
E até mesmo conformada
A pensar que ias morrer
Então e estás de luto por
quem?
Ai filha nem sabes como
lamento
Que a gente não somos ninguém
Mas olha com toda a
sinceridade
Ouve o que eu te vou dizer
Tinha posto no pensamento
Que a tua mãe já há muito
tinha morrido...
Afinal e vai-se a ver
Ficou viúva do marido!
Mas tu és para a minha idade
Pois se eu fui tua vizinha
Ai rapariga não me leves a
mal
Mas isto é caso para
perguntar
Será que a tua avozinha
Também foi ao funeral
Então eu cá via-te passar
No tempo em que namoravas...
Á mulher só me estás a
baralhar!
Tu antigamente não gaguejavas
Realmente estás muito
diferente
Já nem sequer tens aquela
micose
Até parecia que tinhas o
demónio na alma
Agora vejo-te assim tão calma
Deu-te alguma trombose
Ai que eu nem me posse crer!
Á rapariga passa-me para cá o
pão
Então lembrei-me de repente
Que tenho que me ir embora
Ai mulher mas que grande
confusão
Que acabei de fazer agora
Isto só visto realmente
Ai fado do trinta e um
Então eu sempre tinha razão
Mantém-me essa boca fechada
Não conheço esta de lado
nenhum
E tu nem me digas mais nada
Agora é que me estou a
lembrar
Que a outra afinal já foi
sepultada
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