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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Pois Se Já Estive EntroiKada



Muito me tenho intrigado
Onde é que isto vai parar?!
P’rá gente se governar
Ai vê-se numa aflição
Que nem o Zé do telhado
Era a nossa salvação

Mais não me posso encolher
E assim mesmo ando esgalgada
Se nada tenho p’ra comer
Passo fome com fartura
Finjo que estou enfartada
Vejam bem esta loucura

Bebo borras de cevada
Com uma côdea de pão
E entretenho a gengiva
Começo a ficar cansada
Não tenho outra alternativa
Até me mete aflição
Que fico tão enfartada
E assim deixo de comer
Vejam lá bem esta vida
Pois só me faço encolher

Chega à hora do almoço
Nem tem espinha nem caroço
Como um caldo uma sopinha
Mas depois logo ao jantar
Só uma coisa levezinha
P’ra me poder ir deitar

Dou arrotos de pobreza
Mas p’ra tu não ficares mal
Vê lá a minha grandeza
Faço que tenho um boi a assar
Ai Portugal, Portugal
Que eu já me estou a passar

E entro numa apreensão
Pois se já estive entroikada
Não vejo outra solução
E tomada pela incerteza
Tento ser bem governada
Pois se não tenho outra forma
De resto ando sempre tesa
Com a minha fraca reforma

Vai nisto que ao despertar
Lavo a cara de fugida
Antes mesmo de ir p’rá mesa
E não vejo outra saída
Se me apetece urinar
Pois claro faço despesa
Isto só p’ra me limpar

Vou enxaguar a caneca
Guardo a água p’ró legume
Com que vou fazer a sopa
Se não chega a ir ao lume
Vejam bem ó coabreca
Serve p’ra lavar a roupa
Ao menos p’ra uma cueca

Tenho um balde só p’rá pia
Deste ou daquele alguidar
Que isto é que é sabedoria
Faz-me mal ao reumatismo
Tinha que me penhorar
P’ra puxar o autoclismo

Vou a ver dos comprimidos
Tomo um para o coração
E nem me posso esquecer
Fico numa agitação
Parece que vou morrer
Que até me dá dermatose
E apitam-me os ouvidos
Não param de assobiar
P´ra minha artereoscleose
Também tenho que os tomar

De resto sou nervosenta
E dá-me logo p’rá briga
Não vá ficar rabugenta
Lá vai mais um p’rá barriga

Tenho horas para as novelas
Escolho uma de cada vez
Mesmo que seja Janeiro
De resto vou p’rá janela
Recordar a mocidade
Pois chegava ao fim do mês
E eu cá não tinha dinheiro
P’ra pagar a eletricidade

Um dia puxei um cabo
Um cabo de alta tensão
Rebentou com a televisão
E também com a torradeira
Quem tem cu aperta o rabo
E se eu estava toda nua
Dei um salto da banheira
E fui p’ró olho da rua

Levo tempo a me ir deitar
Não me dou atordoada
Adormeço esfomeada
Não sei o que hei-de fazer
Pois só faço é salivar
Ó meu Deus vem-me acudir
Acordo de madrugada
Com vontade de comer
Que nem consigo dormir

Pode parecer caricato
Mas se cada comprimido
Fosse pois bem mais barato
Meu rico e doce marido
Já me cá tenho lembrado
Dá-me vontade de rir
Como isto era sossegado
Passava o tempo a dormir



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