Com os lábios sorridentes
Fui buscar a placa nova
Mas que belíssimos dentes
E que bem que ela me enfeita
Se vou composta p’rá cova
Só posso estar satisfeita
Ai tão perfeitos que são
E se a brancura me encanta!
Tem um pequeno senão
Quando a ponho quem diria
Ao bater-me na garganta
Dá-me uma certa agonia
Tiro só de quando em vez
P’ra ser muito bem escovada
Mas meto logo outra vez
E apesar de condoída
Pois fico muito encovada
E sinto-me envelhecida
Pouco tenho que apontar
Mas se me cresce a saliva
Pois só faço é salivar
E nem tudo dou trincado
Ai dói-me tanto a gengiva
Que como tudo passado
Talvez esteja descaída
Pois se está tudo dorido
Ou talvez esteja subida
Que estas dores põem-me louca
Pois se até já tenho ferido
O meu rico céu-da-boca
Estou farta de bochechar
Mas se não encontro cura
Mais não posso aguentar
Estou a ficar pessimista
Vou pegar na dentadura
E vou com ela ao dentista
Só me apetece é gemer
Estou cada vez mais doente
O que é que ele me irá dizer
Pois que a placa está
perfeita
Que o único inconveniente
É ter a boca malfeita
E cá vou eu tão aflita
Como a vida é traiçoeira
Pois p’ra ficar mais bonita
E até rir à gargalhada
Arranjei uma cremalheira
E ando outra vez desdentada
Afinal e vai-se a ver
Tinha a placa que ser cheia
Fiquei então a dever
E a conselho do doutor
Com o meu pezinho de meia
Comprei gel fixador
Sem comentários:
Enviar um comentário