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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Dores de parto

Há histórias sem terem fim
A minha é um livro aberto
Carregada de esplendor
Pois casei com o meu Joaquim
Tive então o meu Alberto
Não podia ser melhor

Estava noiva e namorava
Era suposto ser pura
Mas se já era brejeira
Pois sempre que ele me beijava
Esquecia-me eu da candura
Gostava da brincadeira

E dei por mim a inchar
Ó meu amor comentaste
Só fazes é vomitar
Pensa lá bem, adivinha
Vai-se a ver que engravidaste
Estás cada vez mais gordinha.

Minha mãe não queria crer
Nem meu pai queria também
Nada podiam fazer
Foi casamento marcado
E eu só me sentia bem
Sempre contigo a meu lado.

A boda foi tão fraquinha
Fritámos umas eiroses
E comemos na cozinha
O arroz doce era às taças
De resto haviam filhoses
E atirámos um foguete
E até tivemos fogaças
Compradas em Alcochete

Mas que grande felicidade
Nem me cabia no peito
Também sou Natividade
E da Purificação
Tinha-te um grande respeito
Falava-te ao coração

E andava eu às candeias
Ai tão prenha tão roliça
Meu filho queria sair
Desde o Bairro do Areias
Vim p’lo Bairro sem Justiça
Com vontade de parir

Tinha as águas rebentadas
Meu marido estava um louco
Com as cuecas encharcadas
Ai senti-me tão nervosa
Passei p’lo Bairro do Mouco
E também p’lo da Barrosa

Enchi-me então de calores
Meu Alberto por engano
Nem nasceu nos Pescadores
Pois se eu estava escancarada
Nasceu no Bairro Serrano
Antes fosse na Calçada

Depois só tive cadilhos
Senão andava descalça
Punha pezinhos de salsa
Nem sequer um comprimido
Meu Alberto era só um

Dizia então meu marido
De uma forma engraçada
Que de nove em nove filhos
Aparece sempre algum
A gostar de laranjada

E eu que nasci sem maldade
E se elas têm inveja
Com toda a espontaneidade
E até teve a sua graça
Mesmo juntinho à igreja
Aonde era a antiga praça

Nem sequer houve parteira
Mas que triste sorte a dela
Minha mãe era peixeira
Gritavam: Abre-te Lina
Pariu-me com a clientela
E sou por isso Albertina


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