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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Que A Reforma Está Encolhida



Comecei a imaginar                          
Quem me daria um emprego
Que a reforma está encolhida
Mas também não vou roubar
E ando neste desassossego
Que ninguém me quer p’ra nada
Nem sei que diga da vida
Só me vejo é enforcada

Já tudo tenho corrido
P’ra melhorar esta sorte
Fui p’rá igreja universal
Deixei de pensar na morte
Pus-me então a lavar escadas
Que o dízimo era comprido
Via as coisas penhoradas
E já me estava a sufocar
Ai que destino fatal
Vejam bem as ironias
Estive quase p’ra me matar
Mas esperei p’la minha vez
Já que a vida são dois dias
E o carnaval são só três

De resto nada mudou
Comecei a adoecer
Tinha as pernas escanzeladas
E se desde aí piorou
A minha hérnia discal
Deixei pois de lavar escadas
E a igreja universal

Agarrei na motorizada
A do meu santo marido
Que p’ra lá estava arrumada
Mais um pequeno reboque
Pintei-o p’ra lhe dar um toque
E fazer-me então peixeira

Ai o que eu tenho sofrido
Foi assim de tal maneira
Andei p’los campos afora
Senti-me quase heroína
Mas deitei o peixe fora
Que no zinco já estava assado
E os meus pregões de varina
Pois não deram resultado

Mas o que é que eu sei fazer?
Pensei pois cá p’ra comigo
Não percebo de computadores
Para escritório não pode ser
P’rás limpezas dão-me dores
Para um balcão não tenho idade
Vejam bem o meu castigo
Estou fora de validade

Tanto quis que lá cheguei
Fui por portas e travessas
Com uma cunha pela mão
P’ra uma linha de montagem
Aquilo que fiz eu não sei
Pois parecia uma miragem
Já estava tudo às avessas
Que parei com a produção
Queriam uma indemnização
Mas p’ró que eu estava guardada
Pois se eu nem tinha um tostão
Só que lá fui perdoada
E a seguir readmitida
Por castigo convencida
Andei a apanhar cartão
Pelo espaço a esvoaçar
E outras vezes pelo chão
Não me dava agachada
Já estava toda torcida
Mandaram-me pois urinar
E deram-me então por drogada
Nem me queria acreditar
Fui outra vez despedida

Tomara eu ter dinheiro
Para o caldo de cada dia
Só se do chá que eu bebia
Meu marido companheiro
Mas pediram-me perdão
Que o chichi estava trocado
Mas que história sem ter fim
E o que ficou acordado
Foi uma indemnização
P’ra se livrarem de mim




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