Das donzelas a mais pura
E noiva de santo António
É uma moça minha amiga
Tem um mal que não tem cura
Ó pobre Marisenela coitada
Ai filha és tão feia de
morrer
Mas quem foi nessa cantiga
Só ao toque de um harmónio
Que ainda assim de cabeça
tapada
Qualquer cego pode ver
E lá vem a noiva Marisenela
Deixem a pequena passar
Que qualquer uma ao pé dela
Parece uma Cinderela
Mesmo que esteja a cagar
Mas que grande bebedeira
Que o gajo tinha pelos cornos
Quantos vão à cabeceira?
Ai credo mas que endiabrados
Olha-me para aqueles adornos
Ah agora é que eu já percebi
tudo
O quê catorze enteados
Tó até parece um cinema mude!
Coitadinha da pequena
Que ela não vai dar vazão
Deus me livre, tanto filho
para criar
Á mulher estou cheia de pena
Mas que péssimo negócio
Credo, larga-o mas é da mão
Dou-te pensão e comida
Que isso faz-te mal ao bócio
E não te deixes enrolar
Não vás ficar toda enxuta
Ó filha mas que merda de vida
Que tu vais ter com esse
filhe da puta
Não, nem me digas mais essa
E vai mais um do andor
Credo foi tudo à pressa
Ah, agora é que eu te vejo!
Não podia ser pior
Ai, tanto filho no corteje
É claro, pronto já estás
agoniada
Olhe-me para essa banheira
Que até a mim me parece mal
Então não havias de estar
cansada
Com esse tronco de laranjeira
Mas que grande festival
Não, ninguém repara em
nada...
Isso vai-se lá perceber!
Vieste assim p’rá capital?
Ai filha estás tão mudada
Que eu já nem te posse nem
ver
Sim, diz que sim ó padre
O melhor mesmo é casares
O que é que se pode fazer
Olha, já que está tudo aos
pares
Pois se assim terá que ser
Não me queiras para tua
comadre
Que eu jamais posse aceitar
Pois se é um grupo sinfónico
Então não ouves o harmónico
Não há reforma que regista
Toma! Se isto até para os
calar
É preciso ser-se artista
Ai filha tem lá paciência
Não me dês conta da moca
Mas que grande indecência
Até tenho a boca a saber-me a
fel
Então ias de lua de mel
E deixavas-me entregue à
tropa
Não, nem me lhe digas!
O quê? Não vou nas tuas
cantigas
Essa é boa, dou-a a quem doer
Olha, tá bem tá bem, quero lá
saber
Sim, vais de comboio para
Cascais
Festejares as tuas bodas
Talvez um dia me dês razão
Mas que grande confusão
Dá a esse com o cotovelo
Isso chega-lhe a roupa ao
pêlo
Mas que cambada de malteses
Ai vais-te arrepender tantas
vezes
E ainda agora não é nada
Dou-te mais dois ou três
meses
P’ra ficares divorciada
Mais vale pensares noutra
casa
Mas que inferno que alarido
Coitada de ti e do teu
querido marido
Crede que isto à vista não
tem fim
Ai que o meu peito até está
em brasa
Nem nunca mais te vês livre
destes
Olha p’ra mim...Faz de conta
que já morrestes
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