A música é maravilhosa
Se eu tivesse um instrumento
Da maneira como eu sou
orgulhosa
Pois ninguém me fazia frente
Levantava-me o alento
E eu sempre para ali a tocarAi poemas do sol nascente
Que era até eu me cansar
No meu tempo era proibido
Como a vida é tão irónica
Mandei então meu marido
Pois se eu cá pagava as cotas
E ele tocou na filarmónica
Sem nunca saber as notas
No Trompete desafinava
Nos outros não se entendia
E eu que não me conformava
Ouve então um certo dia
Ai credo, ou vai ou racha
Vejam bem o meu penar
Só se entendia na caixa
Sem que soubesse marchar
Até fomos a videntes
Que tamanha desilusão
Nem nunca lhe dei o perdão
Deus dá nozes a quem não tem
dentes
Vai-se a ver que às
escondidas
Num instante pus-me a tocar
E as baquetas destemidas
Ensinaram-me a marchar!
Ilustração/Arte Miguel Matos
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