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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Por Sinal Sou Aldeana



Vou escrevendo uns arabescos
Faço-me assim poetisa
E com poemas burlescos
Muito acerto, pouco falho
E o que mais me realiza
Por ser eu tão descarada
Se acaso me dão trabalho
Pois que sejam p’ró brejeiro
Tenham alguma piada
Que rendam algum dinheiro

Por sinal sou Aldeana
Mas por força do destino
Conheço uma Alcochetana
Toda cheia de sainete
Ai saudosa do “Menino”
E do comboio de Alcochete

‘Inda o comboio de Alcochete
Vai ser um metropolitano
Mas que grande brilharete
Não havia melhor sorte
Que eles tiveram por engano
Dá-me vontade de rir
Ai um comboio na Freeport
Mas isso foi a fingir

De fados e guitarradas
Como o nosso, genuíno
O povo quer é touradas
Vai-se a ver de hoje p’rá manhã
P’ra esquecerem o “Menino”
Compram um catamaran

E são doidos por largadas
Que este povo é um povo quente
Também fazem sardinhadas
Só p’ra imitar a gente

Aldegalega já tinha
Uma e outra tradição
E sempre que o toiro vinha
Punha-me atrás da tranqueira
E de resto a multidão
Só queria era brincadeira

Que ainda sou da família
Do forcado Salvação
Com os bois tive uma quezília
Nem sequer uma cornada
Ai fiquei tão enervada
Vi-me perto do abismo
Só de me atirar p’ró chão
Tive até um traumatismo

Mas contam que em Alcochete
Fugiu um boi das largadas
E um tal homem com barrete
Só ele era perseguido
Ai com as pernas escanzeladas
Que o bicho nunca o largou
Mas não se deu por vencido
Tó, fartou-se de fugir
Pelas salinas entrou
Só que o boi foi a seguir

E ficaram atolados
Chamavam-lhe o Araújo
E ouviu-se o homem dizer:
Ai estamos bem arranjados
Nem tu marras nem eu fujo
Não tem nada que saber!

Vejam como o tempo voa
Em tempos que já lá vão
Foram comprar a Lisboa
O São João Padroeiro
Que o nosso por devoção
É São Pedro Pescador
Também ele casamenteiro
Que faz milagres de amor

Mas lá se foi da fragata
Ai que grande trambolhão
E armou-se uma zaragata
Só se ouviam eram ais
Afundaram São João
Mesmo à chegada do cais

Mas vai que um Alcochetano
Ciente do seu papel
Otimista diz o fulano
(E contou-me a minha prima):
Quando arrebentar o fel
O Santo vem ao de cima

E dos anjos da igreja
Com uma áurea abrilhantada
Fulgente, cheia de luz
Isso é que eles têm inveja!
Minha mãe era afilhada
Do Santinho Padre Cruz

Essa zona ribeirinha
Sou eu então que a invejo
É mais bonita que a minha
Deve ter sido bem cara
Iluminada p’lo Tejo
Também foi paga por mim
Tem uma beleza rara
Com aquele tão lindo jardim

E vão-se os tempos mudando
Por vezes com ironia
Quem sabe não estou sonhando
E fazia um beberete
Que era um grande regozijo
Voltasse a ser freguesia
Pois a vila de Alcochete
Do concelho do Montijo




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