No Brasil tanto calor
Cá um frio de rachar
Vou ver se ganho vigor
E logo à hora da ceia
Irei-me pôr a contar
O meu pezinho de meia
Vou contar tanto cascalho
Que me vai dar que fazer
Está debaixo do soalho
Que de rica tenho fama
Tive então que o esconder
Por baixo da minha cama
As notas não me dão jeito
De as poder arrecadar
Têm p’ra mim o defeito
Que me dá muita tristeza
Custam-me tanto a ganhar
Vão-se numa ligeireza
Vai-se a ver o que acontece
Assim já tinha que ser
Pois se acaso as tivesse
Ficava preocupada
Qu’inda podiam arder
Não passam de papelada
Eu nos bancos não confio
Acho que é duma imprudência
Pode haver algum desvio
Tenho azar por natureza
Ou até mesmo a falência
E afinal ficava tesa
Mas o que mais me aborrece
É que vou ter que o trocar
E segundo me parece
Que não me está a convir
Ainda tenho que pagar
O que muito me afronta
Se acaso tiver que abrir
Tiver que abrir uma conta
E vai-se a ver que as
poupanças
Pois estão todas vigiadas
Vigiadas p’las finanças
E vão-me dar um desgosto
Com as moedas trocadas
Minha conta que bem fica
E eles inventam-me um imposto
Pensando que eu sou rica
Ter de seu dá que fazer
Fosse eu latifundiária
Ai andava a padecer
Faço ideia de quem sofre
Fosse eu multimilionária
Guardava tudo num cofre
Mantinha tudo em segredo
A toque de aldrabices
Pois pudera tinha medo
Que o dinheiro fosse à vida
Só vestia chinesices
P’ra passar despercebida
Tenho pena de quem tem
Meu coração não se apega
Ai nem sequer por desdém
Pois se afinal sou feliz
Se o que tenho já me chega
P’ra fugir deste país
Pois parecemos uns bonecos
Tó nas mãos dos governantes
Desfaço-me eu dos tarecos
Vou-me embora quem diria
E junto-me aos emigrantes
Não me faltem aviões
Que muita gente assim queria
Vou-me embora o que é baril
E em ano de eleições
Eu vou viver p’ró Brasil
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