_Bom dia senhor Manuel
Pois se acaso puder ser
Posso ficar a dever?
Então é: uma trincha e um
pincel
Um martelo, uma turquês
Pregos de aço e fechadura
Parafusos desta largura
E pago só no fim do mês
_Com certeza dona Albertina
Que esta casa é para a servir
A senhora é genuína
Da nossa inteira confiança
Olhe e escusa de cá vir
Que eu mando lá a cobrança
_Parece que não é mais nada:
Ora deixa cá ver, deixa cá
ver...
Ai, ando tão desmemoriada
Nem sei o que devo fazer!
Ah são seis metros de cordel
E uma ripa para a roupa.
Mas que coisa tão absurda
Ainda por cima de mouca
Agora estou a ficar surda
Não é mais nada senhor
Manuel
E pronto
Faça lá a minha continha
Sem se esquecer do desconto
E isso bem arredondado
Que é para uma boa cliente
Pois sempre fui certa a
pagar.
Cuidado aí com o quociente
Não se engane para nenhum lado
Que o dinheiro custa a
ganhar!
_Estou a ver muita parcela
Toma, com o desconto e tudo!
Mas eu cá não me chamo
Manuela
Ai que o meu peito até está
mudo
Vinte sete euros, pode lá
ser!
Vá, faça lá a continha de
novo
Que eu sou uma mulher do povo
E vou ficar a dever
Credo, isso não é menos nada?
Não está enganado porventura:
Então desisto da fechadura
Está bem assim senhor Manuel?
E afinal a bem dizer
Se nada tenho p’ra roubar
Nada tenho que temer
Olhe nem trincha, nem pincel
Não vá seduzir algum ladrão
Escuso eu de armar confusão
Que ainda sai desiludido
E se nada tenho para pendurar
Que os meus olhos andam cegos
Não quero parafusos nem
pregos
E se acaso me acautelo
Logo por sua vez
É mais certo que sabido
Nem preciso de martelo
Muito menos de turquês
Veja bem esta ironia
Olhe, empreste-me só trinta
euros
Que eu pago no fim do mês
E dou-lhe já a demasia.
_Estava a brincar senhor
Manuel
Afinal levo a ripa e o
cordel!
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