Número total de visualizações de páginas

sábado, 21 de fevereiro de 2015

P’ra Tudo É Preciso Sorte



Pensei-me em suicidar
Cortar a artéria da aorta
Mas depois de repensar
Foi então que percebi
Nem tenho onde cair morta
Vai-se a ver que desisti

Ai não vou pôr termo à vida
Lá por estar endividada
Não me darei por vencida
E se as contas não estão pagas
Nem morria descansada
Pois procuro a salvação
Ficavam-me a rogar pragas
E eu aos pulos no caixão

Vai daí que ponderei
Passei a vida em revista
Nem sei as voltas que dei
Se a vida rola e rebola
Sendo eu uma otimista
Vou-me pôr a pedir esmola

Mas se tive um sobressalto
Pensei: talvez já não vá
E se me ocorre um assalto
E repensando melhor
Ai fiquei tão pessimista
Perguntei-me: e quem me dá?
Ai vou de mal a pior
Que é outro ponto de vista

Outros sonhos, outras rampas
Tinha como é evidente
Mas lá fui eu lavar campas
E de andar toda agachada
Fiquei com o corpo dormente
Ó meu Deus ai amparai-me
Nem me dava levantada
Por conta deste part time

Estava a ver: não me endireito
Nem podia com as perninhas
E se metia respeito
O cemitério é certo
Pregava então às alminhas
Já que tenho o cofre aberto

Vai daí que desisti
Pois se estava a padecer
Com as coisas que por lá vi
Tó, deixaram-me doente
Fartei-me então de correr
Ai tudo o que era vidente

Que andava sempre a arrotar
E acagaçada com medos
Tó o que eu tive que gastar
Nem me dava arrebitada
Por culpa desses enredos
Pois se eu estava carregada

Tive até p’ra me casar
Com um viúvo atrevido
Queria-me então namorar
E se era um tipo bem-posto
Queria pois ser meu marido
P’ra lhe amainar o desgosto

E a defunta não gostou
Ponho-me no lugar dela
E logo a mim se encostou
Certamente enciumada
Era a Mari Manuela
Deixou-me a casa assombrada

Até mudei de feições
E comecei a inchar
Davam-me alucinações
Sofria duma tal esgana
Mal podia respirar
E comia muita açorda
Pois se ela era alentejana
E por sinal muito gorda

Desatava à gargalhada
Depois punha-me a chorar
Ria por tudo e por nada
Que a tipa era bipolar

Ai que biscate arranjei
Saiu-me pela culatra
Este tiro que assim dei
Tive que me penhorar
P’ra ir ao psiquiatra
Já que é preciso dinheiro
Pois se me quis enforcar
Mas vejam-me o fatalismo
Nisto cai-me o candeeiro
P’ra meu pobre desengano
Fiz até um traumatismo
E por sinal craniano

E assim mesmo vai-se a ver
P’ra tudo é preciso sorte                                                                       
Tive quase p’ra morrer
Foi por uma unha negra
Já nada quero com a morte

Que p’ra morrer vi-me grega 

Sem comentários:

Enviar um comentário