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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Continuas A Ser Meu



A memória que me chega
Dos tempos da mocidade
Ó minha Aldeia Galega
Nem sabes como te invejo
Dá-me tamanha saudade
Ver-te beijada p’lo Tejo

Meu marido, pescador
Também era pequenito
E tornou-se num senhor
Dava ares de ser alguém
Logo desde rapazito
Pois se ele arriava bem

Vai-se a ver me enamorei
P’laquela cara franzina
E depressa me casei
Pois tinhas boa figura
Que a ti Mari Albertina
Por sinal era interesseira
Amor da minha loucura
Que até tinhas pasteleira

Nunca fui complicativa
Antes porém divertida
O que muito me cativa
Pois não gosto de chatices
E ficava enternecida
Ai com as tuas beijoquices

E parecia uma boneca
Tu por mim muito babado
Pois sempre fui malandreca
Tinha vestidos de chita
Ficavas enciumado
Fazias com cada fita

Talvez nem fosse bonita
Mas antes encantadora
Pois sempre que ele se arrebita
Este meu sorriso aberto
Pareço uma sonhadora
Que ainda te tem por perto

Mas que destino incerto
Pois se acaso enviuvei
Resta-me o meu filho Alberto
E o neto da Albertina
Nem nunca mais me casei
Tal como a minha Umbelina

Que apesar da minha idade
Pois ainda sou menstruada
Pensam que não é verdade
Eu explico tudo a miúdo
Nem nunca tive uma pausa
Aparece-me o período
Pois tomo a pilula a dobrar
Mesmo desde a menopausa
Para o poder regular

Agora existem tampões
Mas não os posso usar
Ficava com arranhões
E uso antes um pensinho
Pois se andava a tropeçar
Na ponta do cordelinho

Ai bexiga descaída
Dás-me cá uns embaraços
Pois não tenho outra saída
Já que sou incontinente
Tenho que esticar os braços
Se a retrete é inteligente

Se a retrete é inteligente
Nem tem interruptor
E eu que sou incontinente
Vejam bem a minha sina
Pois não me apanha o sensor
Por eu ser tão pequenina

E sofro de espondilose
Que há vezes que até nem saio
E também tenho uma artrose
Pois se até uso um colete
E bicos de papagaio
E um destinto joanete

Nem me ralo, deixo andar
Pior que estarmos doentes
É a gente querer acordar
Quando os pés já não estão quentes

Como vês estou arrumada
Continuas a ser meu
Pois não me vejo casada
Pelas experiências vividas
Que há com cada camafeu
E com as peles todas caídas 

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