Á rica prima
Umbelina
Sou eu a Maria
Albertina
Toma ainda estás a
jantar?!
Ai, mas tem muito
bom aspecto!
Tó, então já me
estive a arranjar
Deu-me tempo para
lavar a loiça
Vá passa lá com a
bandeja
Á mulher não há
quem te veja
Nem tão pouco quem
te oiça
Diz que esteve cá
o teu neto
Que apesar de
irrequieto
E assim mesmo
endiabrado
Depois é muito
explicado
E que nem sequer
gagueja
Olha, mas estás-me a fazer
inveja!
É mentira estou a brincar...
Pois se me fartei de comer!
Não vês, que só faço é
arrotar...
Pronto vá lá, já que tem que
ser!
Mas põe só um bocadinhoIsto é que ela é teimosa!
Já agora p’ra não me embaçar
Traz-me uma pinga de vinho
Misturado com gasosa
Toma, faço alguma cerimónia?
Olha trás o tacho para a sala
Está bem, está bem, dou-te a
mão à palmatória
Só p’ra ver se essa boca se
cala
Hum! Se me souber assim tão
bem
Como assim tão bem me cheira
Pois se os olhos também comem
Não ponhas de qualquer
maneira
‘Iinda por cima está morno
Que paladar saboroso
Bacalhauzinho no forno
Mas que toque apetitoso!
E se calhar fizeste sopa?
Era capaz de ir um caldinho
P’ra tirar o sal da boca
Mas põe mais um bocadinho
Que dá-me dó comeres sozinha
Olha e já que vais á cozinha
Trazes-me uma fatia de pão
Sabes é que normalmente
Quando estou assim doente
Faço melhor a digestão
Tó, tem um travo no paladar!
Ah tem um segredo a receita!
Pois deixa-me cá decifrar
Á mulher, vá lá aproveita
Ai filha, tu comes tão
devagar!
Mete mais duas ou três
colheres
P’ra comeres acompanhada
Principalmente as mulheres
É tão triste comer sozinha
Ai cadela abandonada!
Não ouves, vais à cozinha?
É que este bacalhau quer
vinho
Metias a sopa a arrefecer
E trazias mais um jarrinho
Mas vem-te sentar descansada
Para acabarmos de comer
Estás ouvir ó Umbelina
E não me deixes ao abandono
Olha, não querem lá ver!
Que agora sou eu que pareço
Uma cadela sem dono!
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