Número total de visualizações de páginas

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Que o Dinheiro é Poucachinho



Já me quis suicidar
Dão-me cá estes impulsos
Nem me consigo enforcar
Apesar das contensões
Nem sequer cortar os pulsos
Não vá rasgar os tendões

Ficam-me as mãos aleijadas
Se acaso sobreviver
Deixo então de lavar escadas
E não me dá muito jeito
Pois se acaso não morrer
Depressa não me endireito

E vai-se a ver que afinal
Nem sempre a gente perdura
Mas se não morrer do mal
E haja pois quem me desminta
Morro até mesmo da cura
Se acaso ficar faminta

Que o dinheiro é poucachinho
E a minha alma até arde
E lá vai mais um caldinho
Que ainda é o que se come
Gostava de morrer tarde
Mas se não vejo uma forma
Se acaso morrer à fome
Ficam-me eles com a reforma

Vejo-me neste dilema
Que o governo assim o quis
Pode até ser estratagema
Cambada de ambiciosos
Que eles querem neste país
Acabarem com os idosos

Nem sequer posso emigrar
E vivo neste presídio
Farto-me eu de mendigar
Se tivesse no estrangeiro
Pedisse algum subsídio
Vinha todo por inteiro

E andamos desenganados
Pois se isto não tem emenda
Só alguns são contemplados
O que afinal não percebo
Até lhes pagam a renda
Nada a mim me querem dar
E eu que enfim nada recebo
E nem é xenofobia
Não tenho como pagar
Estou com as contas atrasadas
Pois se devo à senhoria
As minhas águas furtadas

Porém sempre descontei
Mas perdi as regalias
Como os outros que eu cá sei
Foi então que a Albertina
Pôs-se a trabalhar a dias
Mesmo como clandestina

Confesso pois em segredo
Passa-me tanto p’la tola
Há vezes que sinto medo
De vir a ser apanhada
E me roubem a esmola
Com a qual estou reformada

E há por aí tanta pobreza
A minha é engravatada
Resta-me ainda a certeza
Que há quem se ande a abotoar
E eu sinto-me envergonhada
De ir ao banco alimentar

E cada vez estou mais triste
Ao ver a fome passar
Sabendo que ela existe
Dorme comigo na cama
E eles andam a oferendar
Um simples topo de gama

Se por sinal estou ciente
Pois só faço é reclamar
Que a vida está um inferno
Duvido que o presidente
Se consiga governar

Com aquilo que eu me governo

Sem comentários:

Enviar um comentário