Neste quadro
estou atrás
Ninguém me tira
daqui
Pois ninguém
disso é capaz
E pregada na
parede
Finjo até que
já morri
Mas se estou
toda emproada
E carregada de
sede
Fico aqui
emoldurada
Ó senhor que
olhas p’ra mim
Sei-me bela
certamente
E vai-se a ver
que no fim
Também não me
vais escutar
Pois disso já
estou ciente
Estou farta de
praguejar
E cá estou eu
Albertina
Neste lindo
anil do céu
Que até a minha
Umbelina
Por sinal
veio-me cá ver
E nem me
reconheceu
O que é que eu
posso fazer
Por sinal estou
bem-parecida
E muito bem
arranjada
E acho-me favorecida
No talento do pintor
Se bem que sou engraçada
Aos olhos desse escultor
Estou entalhada na tela
Foi até à exaustão
Pareço uma Cinderela
Tão serena ai tão calma
Que até tenho a impressão
Que sinto em mim sua alma
E afinal vejo os olhares
Com grande reconhecimento
Sobre os versos populares
Que faço com devoção
E quiçá um monumento
Que tamanho regozijo
Desde a raiz do papel
À sua implementação
P’lo grande mestre Miguel
Na cidade do Montijo
P’ra pedir não sou modesta
Defendo tudo o que é meu
Dou afago quero festa
Sou do povo poetisa
E agora estou no museu
E cada vez que me vejo
Pois muito me realiza
Que era esse o meu desejo
Foi de bom-tom ser em vida
Sinto-me muito feliz
Por sinal agradecida
De se lembrarem de mim
P’las obras que então já fiz
E outras que irei fazer
Espero bem que seja assim
Cada qual com o seu dever
Vou dar muito que contar
P’los feitos improvisados
Neste meu poetizar
Vou ser nobre e fantasista
Ao talhar esses bordados
Ai com palavras de amor
E faço cada conquista
Cheia de engenho e fervor
Quero agora que te vás
Deixa-me a sós pois comigo
Ai que muito me apraz
Pois que em mim, o povo crede
E por ser tão meu amigo
Quer-me aqui nesta parede
(ILUSTRAÇÃO/ARTE DE MIGUEL MATOS)
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