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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sei-me Bela Certamente | Maria Albertina Natividade da Purificação

 
 
 
 
 

Neste quadro estou atrás
Ninguém me tira daqui
Pois ninguém disso é capaz
E pregada na parede
Finjo até que já morri
Mas se estou toda emproada
E carregada de sede
Fico aqui emoldurada

 

Ó senhor que olhas p’ra mim
Sei-me bela certamente
E vai-se a ver que no fim
Também não me vais escutar
Pois disso já estou ciente
Estou farta de praguejar

 

E cá estou eu Albertina
Neste lindo anil do céu
Que até a minha Umbelina
Por sinal veio-me cá ver
E nem me reconheceu
O que é que eu posso fazer

 

Por sinal estou bem-parecida
E muito bem arranjada
E acho-me favorecida
No talento do pintor
Se bem que sou engraçada
Aos olhos desse escultor

 

Estou entalhada na tela
Foi até à exaustão
Pareço uma Cinderela
Tão serena ai tão calma
Que até tenho a impressão
Que sinto em mim sua alma

 

E afinal vejo os olhares
Com grande reconhecimento
Sobre os versos populares
Que faço com devoção
E quiçá um monumento
Que tamanho regozijo
Desde a raiz do papel
À sua implementação
P’lo grande mestre Miguel
Na cidade do Montijo

 

P’ra pedir não sou modesta
Defendo tudo o que é meu
Dou afago quero festa
Sou do povo poetisa
E agora estou no museu
E cada vez que me vejo
Pois muito me realiza
Que era esse o meu desejo

 

Foi de bom-tom ser em vida
Sinto-me muito feliz
Por sinal agradecida
De se lembrarem de mim
P’las obras que então já fiz
E outras que irei fazer
Espero bem que seja assim
Cada qual com o seu dever

 

Vou dar muito que contar
P’los feitos improvisados
Neste meu poetizar
Vou ser nobre e fantasista
Ao talhar esses bordados
Ai com palavras de amor
E faço cada conquista
Cheia de engenho e fervor

 

Quero agora que te vás
Deixa-me a sós pois comigo
Ai que muito me apraz
Pois que em mim, o povo crede
E por ser tão meu amigo
Quer-me aqui nesta parede

 

 
(ILUSTRAÇÃO/ARTE DE MIGUEL MATOS)


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