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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Praia De Alcochete | Maria Albertina Natividade da Purificação







 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 





Ai quando eu era catraia
Outros tempos já lá vão
Passeava-me p’la praia
Nem sabia o que eram mágoas
Depois ia ao berbigão
E à ameijoa ao caranguejo                      
Quando corriam as águas
P’las outras águas do Tejo

 

Levava uma temporada
Que até mandava sainete
E não me dava cansada
Gostava então de acampar
Ai na praia de Alcochete
Lembro-me desde pequena
Que só da aragem do mar
Ficava toda encardida
Pois se sempre fui morena
Ao longo da minha vida

 

E se já era ousada
Com as pernas descompostas
E a cintura torneada
Como eu era elegante
E ai que até mostrava as costas
Ora só ligeiramente
Sem que fosse provocante
Sempre fui muito p’rá frente

 

E era uma festa garanto
As ondas desencontradas
A espraiarem-se num manto
Ai de algas enfeitado
Pelas areias crestadas
Com o dia ensolarado

 

Metia-me a bracejar
À beirinha da maré
Depois ia navegar
Meu pai era pescador
Tinha a Barca de Noé
Íamos dar umas voltas
Era um bom velejador
Por entre as águas revoltas

 

Por entre as águas do Tejo
Já tinha o rosto engelhado
Parece que ainda o vejo
Ai se era um sonhador
E ao invés de estar calado
Ai punha-se a conversar
Tinha dotes de orador
Contava-me lendas e histórias
Quando se punha a imaginar
As suas próprias memórias

 

E ancorava a embarcação
Justo ao entardecer
Naquelas tardes de verão
Antes do Sol se esconder

 

Ia mais uma banhoca
Lá ao longe o mar fugia
E o meu pai ia à minhoca
Enquanto eu me divertia

 

E enterrava-me na areia
Enquanto o Sol se escondia
Vinha a Lua feiticeira
Ficava a noite enfeitada
E até nas águas luzia
Essa Lua prateada

 

E que bela cavaqueira
Ouvia-os a recordar
E sempre na brincadeira
As peripécias da vida
Como que a fantasiar
De uma forma divertida

 

Deixava-me adormecer
No rodado de uma saia
Com pressa de amanhecer
Nos braços da madrugada
P’ra voltar a ir p’rá praia
Logo pela alvorada

 

 

 
(ILUSTRAÇÃO/ARTE DE MIGUEL MATOS)


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