Ai quando eu era catraia
Passeava-me p’la praia
Nem sabia o que eram mágoas
Depois ia ao berbigão
E à ameijoa ao caranguejo
Quando corriam as águas
P’las outras águas do Tejo
Levava uma
temporada
Que até mandava
saineteE não me dava cansada
Gostava então de acampar
Ai na praia de Alcochete
Lembro-me desde pequena
Que só da aragem do mar
Ficava toda encardida
Pois se sempre fui morena
Ao longo da minha vida
E se já era
ousada
Com as pernas
descompostasE a cintura torneada
Como eu era elegante
E ai que até mostrava as costas
Ora só ligeiramente
Sem que fosse provocante
Sempre fui muito p’rá frente
E era uma festa
garanto
As ondas
desencontradasA espraiarem-se num manto
Ai de algas enfeitado
Pelas areias crestadas
Com o dia ensolarado
Metia-me a
bracejar
À beirinha da
maréDepois ia navegar
Meu pai era pescador
Tinha a Barca de Noé
Íamos dar umas voltas
Era um bom velejador
Por entre as águas revoltas
Por entre as
águas do Tejo
Já tinha o
rosto engelhadoParece que ainda o vejo
Ai se era um sonhador
E ao invés de estar calado
Ai punha-se a conversar
Tinha dotes de orador
Contava-me lendas e histórias
Quando se punha a imaginar
As suas próprias memórias
E ancorava a
embarcação
Justo ao
entardecerNaquelas tardes de verão
Antes do Sol se esconder
Ia mais uma
banhoca
Lá ao longe o
mar fugiaE o meu pai ia à minhoca
Enquanto eu me divertia
E enterrava-me
na areia
Enquanto o Sol
se escondiaVinha a Lua feiticeira
Ficava a noite enfeitada
E até nas águas luzia
Essa Lua prateada
E que bela
cavaqueira
Ouvia-os a
recordarE sempre na brincadeira
As peripécias da vida
Como que a fantasiar
De uma forma divertida
Deixava-me
adormecer
No rodado de
uma saiaCom pressa de amanhecer
Nos braços da madrugada
P’ra voltar a ir p’rá praia
Logo pela alvorada
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