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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Queria Ser Uma Astronauta | Maria Albertina Natividade da Purificação

 
 
 
 


Sou tocadora de flauta
P’lo que eu passo e já passei
Queria ser uma astronauta
Mudar de esquina e de rua
Dava tudo o que ganhei
P’ra emigrar para a Lua

 

Lá vou eu num foguetão
Com uns fatos espaciais
Saio desta confusão
Livro-me da minha nora
Doutras guerras infernais
Se me for daqui p’ra fora

 

Deve até ser divertido
Uma cápsula p’la manhã
Ao almoço um comprimido
A mesma coisa ao jantar
E em pezinhos de lã
Andamos a vaguear

 

Faço parte da limpeza
Serei a encarregada
E de resto com certeza
P’ra ter uma ocupação
Farei também de criada
Que é pouca a tripulação

 

P’ra piloto não me ajeito
Não sei as coordenadas
Cada qual com seu preceito
Mas podiam-me ensinar
Com as matérias bem estudadas
Aprendia a pilotar

 

Lá ia eu pelo espaço
Como figura heroica
E era um desembaraço
Lavava-me esta tristeza
E livrava-me da Troika
De estarmos tão vacilantes
Da recessão portuguesa
E dos nossos governantes

 

E se no espaço houver vida
Eu disso tenho esperança
Se afinal sou divertida
Darei umas cambalhotas
Farei boa vizinhança
E contarei anedotas

 

Levo o pífaro levo a pauta
Declamarei meus poemas
E enquanto for astronauta
Poetizo o universo
E vai ser um problema
Ai se acaso houver regresso

 

Deve ser um paraíso
Quem me dera lá chegar
Mas que dias de juízo
Não vale a pena ir à esmola
Não há quem tenha p’ra dar
Pois está tudo desfalcado
E ninguém acha garçola
Quando se pede fiado

 

Por sinal por minha parte
Era-me mais acessível
Se acaso fosse p’ra Marte
Ficava longe da Terra
E tornava-me invencível
Aliada ao deus da guerra

 

E o que interessa é fugir
Isto só p’ra começar
P’rá gente se prevenir
Pois que eu cá não seja incauta
Já que eles mandam emigrar
Não irei de qualquer forma
Vou de vez como astronauta
Mas quero a minha reforma

 

 

 
(ILUSTRAÇÃO/ARTE DE MIGUEL MATOS)

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