Tenho um sonho
que acalento
Que é ir viver
p’ró Brasil
Mas se não
tenho orçamento
P’ra um clima
tropical
Entrego-me ao
meu covil
Ficarei por
Portugal
E até ia num
cruzeiro
Saía deste país
Pois se tivesse
dinheiro
P’ra com ele me
governar
Era menos
infeliz
Tinha até
economias
E depois de lá
chegar
Gozava das
regalias
Regalias
sociais
Bastava ser
pobre e grata
Com causas
fundamentais
P’rá vida me
ser barata
Espraiava-me
então na praia
E era até o sol
se pôr
Com uma saia de
cambraia
Fazia uma
festarola
E até me punha
a compor
E raiada de
alegria
Punha-me a
tocar viola
Nas cordas da
fantasia
E de tanto
dedilhar
Essa moda
brasileira
Punha-me então
a sonhar
Com a viola a
gemer
Depois ia
mergulhar
Isto só p’ra
arrefecer
E brincava com
a areia
Ao vê-la
rodopiar
Sentia-me uma
sereia
Que o meu jeito
não descamba
E aprendia a
navegar
Nas voltas que
tem o samba
E bordava os
meus castelos
Em areias de
novelos
Tão
principescos, tão belos
E deitava-me a
nadar
Sem que
molhasse os cabelos
Nas ondas doces
do mar
Depois logo me
aquecia
Tão relaxada
estendida
Mas só quando
entardecia
Deixava de ser
sereia
E afagava
enternecida
Como quem
acaricia
Os meus
castelos de areia
Já tenho uma
certa idade
E até posso ser
gaiteira
Mudo a nacionalidade
Com um novo
casamento
Torno-me então
brasileira
Por conta do
sentimento
Ó meu rico
Portugal
Ai tenho-te
muito amor
Mesmo sendo
genial
São sete cães a
um osso
E ninguém me dá
valor
Sobra-me sempre
o caroço
Mas que boa
sensação
Ai clima
tropical
Que é quase
sempre verão
Nem me punha a
tilintar
Como cá em
Portugal
Pois que aqui
não me governo
E se ando
sempre de tanga
É um frio de
rachar
Lá por sinal no
inverno
Punha umas
calças de ganga
(ILUSTRAÇÃO/ARTE
DE MIGUEL MATOS)
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