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segunda-feira, 22 de julho de 2013

A Um Passo Do Trono | Maria Albertina Natividade da Purificação







































Que sonho maravilhoso
Pois parecia uma princesa
Num palácio harmonioso
E até tinha dentadura
Nada faltava na mesa
Ai que tamanha fartura

 

Toda a gente era bonita
Com uma cara abastada
Que a fortuna é bendita
Não tem olhos de magreza
Nem a boca desgrenhada
Que isso é próprio da pobreza

 

E até mesmo a criadagem
Tão bem vestida que estava
Que parecia uma miragem
De um lindo conto de fadas
E toda a gente arrotava
Com as barrigas enfardadas

 

Tinha um príncipe afinal
Que não era o meu marido
E parecia um general
Todo muito vaporoso
Pois não era o falecido
Era muito mais jeitoso

 

Até parecia um boneco
A esgaçar sempre um sorriso
Com olhos de malandreco
E se eu estava enfeitiçada
Tinha perdido o juízo
Não me ralava com nada

 

Ricas pedras valiosas
No arroubo do esplendor
Irradiavam lustrosas
E era escaldante e não morno
O corpo do meu amor
E elas tinham dor de corno

 

Era nova como invejo
Os tempos que já lá vão
Agarro-me a esse ensejo
E dá-me tanta saudade
Que sendo rica então
Maior era a felicidade

 

Toda a gente foi bailar
E eu cá tinha emagrecido
E sabia-me ajeitar
Como eu estava enternecida
Com o meu suposto marido
Marido p’ra toda a vida

 

Senti por ele um desejo
Nos afagos consentidos
E ele arrebatou-me um beijo
Que me deixou transtornada
Perdi então os sentidos
Que dei por mim desmaiada

 

Vai-se a ver quando acordei
Tinha mesmo desmaiado
Ai tão triste que fiquei
Queria ir dali p’ra fora
Estava o meu filho adorado
E a cabra da minha nora

 

Vim a mim no hospital
Quem sabe se estive em Marte
Diziam que eu estava mal
Já me queriam sepultar
Que eu tinha tido um enfarte
Pois se eu não queria acordar

 

Ninguém me vem socorrer
Quando eu estava bem na vida
Acharam que ia morrer
E eu que não me conformava
Estava tão arrependida
Que por mim não acordava

 

E já sentia saudades
Do meu príncipe encantado
E dos montes das herdades
Do palácio do jardim
Já me tinha questionado
Se ele se lembrava de mim

 

‘inda me atirei p’ró chão
Para ver se desmaiava
Mas não tive solução
Nem outra oportunidade
Toda a gente me agarrava
Com muita brutalidade

 

Lá voltei a pobrezinha
Tive ganas de aflição
Se eu podia ser rainha
Pois cada pão a seu dono
Tinha a minha coroação
E a seguir subia ao trono

 
 
 
 

(Ilustração/Arte de Miguel Matos)


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