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terça-feira, 13 de agosto de 2013

Com A Corda P’lo Pescoço | Maria Albertina Natividade da Purificação

 
 
 
 
 
 
 

Perdi-me no fuso horário
Não consigo adormecer
Tenho os sonos ao contrário
Até me mete aflição
Só se eu cá os combater
Com uma medicação

 

Vai-se a ver durante o dia
Só me apetece dormir
Ganho então uma alergia
Mas se ainda assim batalho
Só me apetece fugir
Ao invés de ir p’ró trabalho

 

Mas lá vou eu lavar escadas
Às vezes ando lonjuras
E tenho as pernas cansadas
Doí-me a espinha, ando curvada
Ai que até me dão tonturas
Pois se estou contrariada

 

E penso na minha vida
Nas minhas fracas pensões
Ponho-me desiludida
Que o destino é incerto
Pago tudo às prestações
E nunca me precipito
P’ra ajudar o meu Alberto
Que também anda aflito

 

E se nunca o desamparo
Fartamos de trabalhar
Pois está tudo muito caro
Tudo p’la hora da morte
E o que só faço é pensar
Que afinal não temos sorte

 

E ponho-me a matutar
Dá-me então uma espertina
Não me consigo ir deitar
Mas que grande sofrimento
Que a ti Maria Albertina
Faz contas ao orçamento

 

Ouve-se um fado menor
Que este destino é velhaco
Vamos de mal a pior
E só temos arrelias
Vai-se a ver que o Cavaco
Também se andava a queixar
Vive das economias
P’ra se puder governar

 

E por este caminhar
Ainda perde as esperanças
E ao depois fica repeso
Quando acabar por gastar
As suas pobres poupanças
Das aplicações bancárias
E se acaso ficar teso
Não tem como fazer frente
Às despesas extraordinárias
Coitado do presidente

 

De resto a nada me nego
Que assim mesmo tem que ser
Já pus o oiro do prego
Bebi uns poucos canecos
E o que tenho p’ra vender
São uns pequenos tarecos

 

E ando sempre agoniada
Por conta das ralações
Pois se vivo endividada
Mais não me posso esticar
Sonho com o euro milhões
Sem sequer poder jogar

 

Às vezes faço um balanço
E dou por mim a sonhar
Que ando p’raí no gamanço
Pois se até sou rabitesa
E acabo por acordar
Afinal sobressaltada
Pensando eu que já estou presa
Que ao fugir fui apanhada

 

E não tenho escapatória
Dou voltas à minha tola
Mas é sempre a mesma história
E até percebo o porquê
Se me puser à esmola
Nem tenho pois quem me dê

 

Que anda tudo pendurado
Com a corda p’lo pescoço
Pois não chega o ordenado
Pobre povo português
Vai tudo até ao caroço
E a sardinha dá p’ra três
 
 
 
ILUSTRAÇÃO/ARTE DE MIGUEL MATOS

 
 

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