Perdi-me no fuso
horário
Não consigo
adormecer
Tenho os sonos
ao contrário
Até me mete
aflição
Só se eu cá os
combater
Com uma
medicação
Vai-se a ver
durante o dia
Só me apetece
dormir
Ganho então uma
alergia
Mas se ainda
assim batalho
Só me apetece
fugir
Ao invés de ir
p’ró trabalho
Mas lá vou eu
lavar escadas
Às vezes ando
lonjuras
E tenho as
pernas cansadas
Doí-me a
espinha, ando curvada
Ai que até me
dão tonturas
Pois se estou
contrariada
E penso na
minha vida
Nas minhas
fracas pensões
Ponho-me
desiludida
Que o destino é
incerto
Pago tudo às
prestações
E nunca me
precipito
P’ra ajudar o
meu Alberto
Que também anda
aflito
E se nunca o
desamparo
Fartamos de
trabalhar
Pois está tudo
muito caro
Tudo p’la hora
da morte
E o que só faço
é pensar
Que afinal não
temos sorte
E ponho-me a
matutar
Dá-me então uma
espertina
Não me consigo
ir deitar
Mas que grande
sofrimento
Que a ti Maria
Albertina
Faz contas ao
orçamento
Ouve-se um fado
menor
Que este
destino é velhaco
Vamos de mal a
pior
E só temos
arrelias
Vai-se a ver
que o Cavaco
Também se
andava a queixar
Vive das
economias
P’ra se puder
governar
E por este
caminhar
Ainda perde as
esperanças
E ao depois
fica repeso
Quando acabar
por gastar
As suas pobres
poupanças
Das aplicações
bancárias
E se acaso
ficar teso
Não tem como
fazer frente
Às despesas
extraordinárias
Coitado do
presidente
De resto a nada
me nego
Que assim mesmo
tem que ser
Já pus o oiro
do prego
Bebi uns poucos
canecos
E o que tenho
p’ra vender
São uns
pequenos tarecos
E ando sempre
agoniada
Por conta das
ralações
Pois se vivo
endividada
Mais não me
posso esticar
Sonho com o
euro milhões
Sem sequer
poder jogar
Às vezes faço
um balanço
E dou por mim a
sonhar
Que ando p’raí
no gamanço
Pois se até sou
rabitesa
E acabo por
acordar
Afinal
sobressaltada
Pensando eu que
já estou presa
Que ao fugir
fui apanhada
E não tenho
escapatória
Dou voltas à
minha tola
Mas é sempre a
mesma história
E até percebo o
porquê
Se me puser à
esmola
Nem tenho pois
quem me dê
Que anda tudo
pendurado
Com a corda
p’lo pescoço
Pois não chega
o ordenado
Pobre povo
português
Vai tudo até ao
caroço
E a sardinha dá
p’ra três
ILUSTRAÇÃO/ARTE
DE MIGUEL MATOS
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