Rimo por tudo e
por nada
O que muito me
realiza
Se acaso estou
inspirada
Faço poesias
estupendas
Do povo sou
poetisa
E até recebo
encomendas
O que afinal me
convém
Vai-se a ver
que até me acalma
Pois se me sabe
tão bem
Não é que eu
seja interesseira
Mas se me faz
bem à alma
Melhor me faz à
carteira
Cada rima uma
filha
E a poetisa se
engraça
Levo um euro
por sextilha
E de tudo um
pouco conto
E faço as
quadras de graça
Como se fosse
um desconto
Faço motes faço
glosas
E mesmo assim
nunca falho
E se são
meticulosas
Sempre com a
mesma cadência
Requerem muito
trabalho
E uma certa
paciência
E sigo este meu
impulso
Que me põe a
poetizar
Vendo versos a
avulso
Se parece mal
ou bem
Se acaso ando a
mendigar
Se a algum de
vós vos pareceu
Não devo nada a
ninguém
E vendo tudo o
que é meu
Canto até à
desgarrada
Ai quando estou
destemida
Claro que sou
envergonhada
Mas se afinal
nem pareço
Preciso estar
bem bebida
Isto p’ra não
hesitar
Pois vai-se a
ver que me esqueço
E começo a
gaguejar
Mas com um
jantar bem regado
Até pareço um
melrinho
Podem-me ouvir
cantar fado
Com a minha voz
maviosa
E lá vem mais
um jarrinho
E começo a
improvisar
Bebo tinto com
gasosa
Mal me
conseguem calar
E das demais
candidatas
Lá vêm os namorados
Lá vêm os namorados
E encomendam-me
serenatas
Ponho-me a
cantarolar
Ficam mais
apaixonados
Faço então a
minha parte
E um deles vai
ter que pagar
O engenho da
minha arte
Faço até de
carpideira
Pois se já fui
contratada
É mais algum
p’rá carteira
Deu-me dó e piedade
Fiquei então
derreada
Que o morto ia
sozinho
Chorei até de
vontade
Com pena do
pobrezinho
E como sei
prosear
Sou dama de
companhia
Ponho-me então
a contar
A história da
minha vida
Com tamanha a
fantasia
Que a torno tão
divertida
Vejo o mundo bem-disposto
Vai-se a ver
que a gargalhada
Ainda não paga
imposto
Se acaso um dia
pagar
Ficarei bem
arranjada
Pois só quero é
gargalhar
E se acaso
animo a malta
Pois que seja
sempre assim
Que o trabalho
faz-me falta
E se ando de
pele e osso
É por conta do
pilim
Também da minha
colite
Vai tudo até ao
caroço
Pois se eu cá
tenho apetite
Serei um dia
famosa
Já que sou uma
otimista
Tenho sonhos
cor-de-rosa
Com os quais
tanto convivo
Nem vejo as
coisas p’ró torto
E já dizia uma
artista
Que o contrário
de estar vivo
É afinal
estar-se morto
ILUSTRAÇÃO/ARTE
DE MIGUEL MATOS
Sem comentários:
Enviar um comentário