Pois sempre fui
de risotas
E de boas
gargalhadasE de contar anedotas
E acho-me graça a mim
Gosto de boas piadas
Rio do princípio ao fim
Tenho p’ra dar
muito amor
Se afinal sou
inteligenteCom o meu sentido de humor
Que goste de gargalhar
Procuro um pretendente
E que tenha amor p’ra dar
Mas se vivo
insatisfeita
É com cada
camafeu Deito-me então contrafeita
Por sinal arreliada
Mas nos braços do Morfeu
P’ra estar mais aconchegada
Começo-me a
recordar
Do meu defunto
maridoComo se fosse a sonhar
Com aqueles olhos encantados
Que pena ter falecido
E se eles eram esverdeados
Bailavam
alegremente
Sempre assim
foi toda a vidaE às vezes tão docemente
Tão meigos tão ternurentos
Que me sentia perdida
Nesses nossos juramentos
E se estava
enamorada
Sempre o estive
certamenteÀs vezes enciumada
Punha-me até convencida
Se o ciúme era doente
Ai ficava enfurecida
Ia-me então
desferrar
Desatava às
bofetadasSempre que te ia encontrar
Em amenas cavaqueiras
E elas com elas fisgadas
Pois se eram muito interesseiras
Sempre me foste
fiel
E disso tenho a
certezaE eu fazia o meu papel
De ser toda rabitesa
Eras um tipo
jeitoso
E sempre o foste
assimPor sinal todo dengoso
Só tinhas olhos p’ra mim
Mas sinto uma
solidão
Neste preciso
momentoE até te peço perdão
Por aquilo que estou a sentir
Queria um novo casamento
P’ra me puder divertir
E que seja
amoroso
Como tu
sentimentalQue seja um tipo engenhoso
Saiba até fazer dinheiro
Estou farta de passar mal
Nem que seja um sapateiro
Pois que faça
os seus biscates
Tenha reforma
tambémQue eu ando com uns alicates
Ai por conta da fraqueza
E só me fazia bem
Perdia toda a tristeza
Não queria um
divorciado
Viúvo de
preferência Sem casamento marcado
Pois p’ra fugirmos às normas
P’ra nossa conveniência
Ficávamos fornecidos
Logo com quatro reformas
Por conta dos falecidos
O que só faço é
pensar
No meu novo
ajuntamentoE até ia festejar
Bebia então uns canecos
Nesse preciso momento
E ao ficar comprometida
Juntava então os tarecos
Com o amor da minha vida
Hoje nem quero
um abastado
Saía-me algum
sovinaQue seja remediado
E que vá à minha frente
Que a ti Maria Albertina
Já se dava por contente
Pois p’ra
sofrer estou cá eu
E sempre tão
conformadaVai-se a ver também morreu
O meu defunto Joaquim
Deixou-me desamparada
E se ele gostava de mim
É verdade que
chorei
Ai tão triste
desgostosaSó eu sei o que passei
E com falta de dinheiro
Mas como sou generosa
Quem vier que vá primeiro
Mais caixão
menos caixão
Pois já tenho
um reservadoQue comprei em promoção
E posso até dispensar
Está muito bem acabado
P’ra quem o queira comprar
Mas tenciono
ser feliz
E quase que
eternamenteOlhas p’ra mim e sorris
Perante tanta virtude
E nem me desejas mal
Pois vai-te assim de repente
Dou-te um lindo funeral
Não me metas em trabalhos
Se te faltar a saúde
Não fiques feito em frangalhos
E é este pois o
meu sonho
Sozinha não
quero ficarE com um futuro risonho
Pois tenho estes pensamentos
E sem sequer me casar
Quero viver dos rendimentos
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